A Arte da Narração - Capítulo 6

A Arte da Narração – Capítulo 6 | Narração para alunos mais velhos
A narração é uma abordagem muito importante dentro da filosofia educacional da educadora britânica Charlotte Mason, e, segundo a mesma, pode e deve ser iniciada no primeiro ano de ensino formal, aos 6 anos. Uma dúvida frequente entre pais educadores é:
“Descobri Charlotte Mason recentemente e meu filho já está avançado nos estudos. É possível inserir a narração em sua rotina mesmo assim?”
A resposta é: sim, é possível. Primeiramente porque a narração é uma ferramenta que tem como objetivo criar relacionamento entre o aluno e o saber e tornar o conhecimento de novas matérias mais palatável, natural e prazeroso. É o completo oposto da cultura dos questionários e questões de múltipla escolha que encontramos em diversas escolas. Portanto, um aluno pode tirar proveito dessa prática, mesmo que já não esteja mais em seus anos iniciais de estudo.
Outro argumento que sustenta a adesão à prática, independentemente da faixa etária, é que a narração é um hábito que se forma naturalmente na vida cotidiana de uma criança. Somos “narradores inatos”, espontaneamente contamos sobre nosso dia, nossas experiências, aquilo que vimos e aprendemos. Porém, certamente podemos presumir que exista diferença entre a narração espontânea e rotineira daquela feita formalmente durante uma lição, por isso Karen Glass chama nossa atenção para alguns pontos:
1 - Embora o aluno mais velho provavelmente já saiba ler e escrever com fluência, é importante começar da mesma forma em que começamos com os de 6 anos, com narrações orais somente. Mais do que contar uma história, o aluno precisa exercitar o hábito da atenção completa. Um bom narrador é um narrador verdadeiramente atento;
2 - Alunos mais velhos podem tirar melhor proveito da nova prática se esclarecidos a respeito dos benefícios e vantagens da mesma, por isso, não tenha medo de explicar ao seu aluno e/ou filho o motivo da inserção dessa nova abordagem;
3 - Diferentemente dos alunos nos anos iniciais, não é necessário ficar anos apenas com a narração oral. À medida em que o aluno for ganhando segurança e fluência, é possível migrar para a narração escrita, essa avaliação deve ser feita de forma individual;
4 - Após o exercício de narração, pode-se fazer perguntas para os mais velhos a fim de estimular um momento de discussão e reflexão. Porém, é importante não cair na tentação de fazer perguntas que tenham como objetivo “completar” o que você, como educador, considera que faltou na narração do seu aluno. Lembre-se de que o objetivo é fomentar a relação DO ALUNO com o conhecimento, e não treiná-lo a responder questões objetivas que o professor somente considera importante.
Karen Glass no capítulo 6 fornece importantes critérios para a elaboração dessas perguntas, um deles é encorajar o aluno a pensar em princípios mais amplos, causas e efeitos, e, até mesmo, em outras alternativas. Por exemplo:
- E se eles tivessem esperado até o dia seguinte? O que poderia ter sido diferente?
- E se ela tivesse ouvido o conselho? O que ela teria feito?
Além disso, convém também lançar mão do método Socrático que, dentre muitas coisas, explora aspectos éticos e morais dos assuntos:
- Ela deveria ter esperado por ele?
- Os soldados deveriam ter desobedecido a ordem?
A narração pode e deve ser inserida na rotina de estudos de alunos mais velhos, e, Karen Glass não somente recomenda a prática como nos dá subsídios para implementá-la, lembrando sempre de que nós devemos deixar que o material de estudo escolhido seja “a porta de entrada para conhecimento profundo e original”, sem deixar que nossas próprias percepções e narrações se sobreponham ao que foi elaborado pelo aluno.
