A Arte da Narração - Capítulo 3

São 5 os princípios essenciais para tornar a narração verdadeiramente efetiva. 


1° Princípio: A narração deve ser feita de um material de alta qualidade

 

O primeiro princípio é que a narração deve ser feita de livros de alta qualidade, ou seja, o cuidado com a escolha do material que vai ser a base da narração é essencial. A autora destaca a necessidade de que esse material, essa literatura seja consistente, que seja um verdadeiro alimento para a mente, porque dali o aluno vai narrar oralmente, ou por escrito. Então, quanto melhor for o livro que o aluno está lendo, melhor será sua narração. 


A autora faz a comparação de que narração é como o processo digestivo do corpo. É o processo de assimilação do material que foi lido, portanto, se esse material já vem digerido, mastigadinho, a criança não vai ter muito trabalho a fazer e provavelmente não vai reter aquele conteúdo.  Nesse sentido, a maioria dos livros didáticos são considerados como pobres, nutritivamente falando, ainda utilizando a metáfora da digestão, porque são livros que não aguçam a sua atenção e a sua imaginação então pode ser considerada uma comida pobre, seca. Autora também alerta para o entretenimento que vem da televisão: filmes, videogames, desenhos, e outras atividades nesse sentido não podem substituir uma boa leitura de um bom livro. 

Para que a prática da narração seja efetiva é preciso que esses livros sejam livros ricos, fortes, que gerem engajamento em todas as áreas do currículo. E no final das contas, qual é a consequência de dar uma boa literatura, livros de alta qualidade, para as crianças lerem e narrarem? A consequência é que eles desenvolvem habilidades de pensamento em um alto nível. Literatura rica, histórias biografias são alguns exemplos de livros indicados, os chamados livros vivos. Porém não apenas livros vivos são indicados, mas também descobertas científicas práticas, exploração à natureza, exploração geográfica também são excelentes alimentos para a mente. Uma criança também pode descrever uma árvore, uma paisagem ou uma pintura, pois todas essas descrições são consideradas narrações. A criança também pode ser convidada a narrar um processo científico, um experimento ou na matemática através da explicação de como chegou naquela resposta. 

 

2° princípio da narração: A criança não poderá ter uma segunda chance de leitura

 

Charlote Manson acreditava que as crianças têm grandes poderes de atenção que pode levá-las a um amor pelo conhecimento e essa é a natureza da mente. Por isso ela entregava bons livros nas mãos das crianças. e além disso nunca lia uma segunda vez, pois isso faz parte do processo de leitura e narração. Então, se você for solicitar que a criança faça uma narração do conteúdo lido, não dê uma segunda chance, isso vai habitua-la ao hábito de estar sempre atenta. 


3° princípio da narração: A narração substitui questionários prontos 


A estrutura de dinâmica de provas da escola, geralmente conta com perguntas direcionadas, especificas. Isso significa dizer que é o professor quem determina qual assunto é mais importante, ou seja, qual assunto tem de ser lembrado. Porém quando adotamos a prática da narração, é a criança quem determina quais são as informações importantes que devem ser recapituladas. Quando o professor pergunta: “O que você lembra sobre o que você acabou de ler?”, isso significa dizer que a própria criança é forçada a se perguntar: “O que vem depois?” Neste momento, a criança precisa pensar sobre o material que ela leu entender e responder às suas próprias questões. 


Além disso, no momento em que o aluno estiver narrando, o professor não vai interromper sua a composição oral, muito pelo contrário, vai deixar que ele conte tudo o que ele se lembra, ou poderá interromper o processo mental da criança de composição oral. 

Então, o que precisamos fazer durante o processo de narração é apenas escutar, disponibilizar o tempo necessário e esperar que a criança termine. Sendo assim somente quando ela terminar é que, caso a narração esteja incompleta, aí sim podemos pedir por uma narração de algo específico. Faz parte da construção de hábitos intelectuais não permitir que a criança tenha a chance de ler uma segunda vez, porque isso vai estimular a criança a empregar total atenção ao momento da leitura. 


Em uma realidade de sala de aula a narração é feita por diversos alunos, então, enquanto um aluno faz a narração da leitura, os outros alunos estão ouvindo. O que acontece na prática é que, se um aluno que faz a narração e esquece algo importante, algum outro colega pode incluir essa informação na narração. Com isso, cria-se um padrão que será aprimorado em uma próxima narração. 

A autora dá uma dica importante para os professores ou pais se prepararem antes de uma aula que inclua o método da narração: o adulto pode escrever no quadro algumas palavras-chave ou detalhes que sejam essenciais naquela leitura como uma espécie de encorajamento para que o aluno inclua essas palavras em sua composição oral ou escrita. 


As crianças são capazes de pensar por elas mesmas e precisam ter a oportunidade de colocar essa habilidade em prática e o uso da narração dá à criança essa oportunidade de pensar, na verdade requer isso dela. O resultado deste processo mental de composição oral aparece na resposta: “isso é necessário incluir, mas aquele detalhe não é exatamente significante”. Então se você aplica a narração com o seu filho é importante destacar esse princípio de permitir que a criança deve questionar ela mesma sobre o que é necessário dizer naquela narração. Isso permite compreender o seu real conhecimento sobre aquele conteúdo. 


4° princípio: Periodicamente deve haver uma revisão do conteúdo anterior 


A criança não apenas vai usar o método da narração no seu dia a dia, mas elas também devem fazer uma narração do que foi visto anteriormente. E isso vai acontecer de diversas formas, por exemplo: solicitando uma narração sobre o que aprenderam na semana anterior. No processo de aprendizagem da criança, é necessário que ela se lembre do que estudou anteriormente para dar continuidade. 

A outra maneira disso funcionar também é através dos exames baseados em narração. A proposta da autora é de realizar exames a cada 12 semanas, que é atualmente o padrão que utilizamos em nossa escola. O aluno vai passar por uma semana de exames. Nessa semana ele vai ser solicitado a narrar o material que estudou naquele trimestre. As questões vão ser baseadas nos livros que ele leu e narrou. Aqueles que previamente fizeram uma leitura serão capazes de fazer a narração novamente. O mais interessante aspecto desse tipo de exame é que isso permite que a criança diga o que ela sabe, sem pegadinhas. Algumas crianças podem narrar mais detalhes enquanto outras podem realizar mais resumos ou falar sobre outros detalhes, mas o mais importante é que elas sabem o conteúdo daquele material porque elas leram anteriormente e narraram. Com essa estrutura de exames, o professor investiga aquilo que a criança sabe. 


Além disso quando a narração já é uma prática consistente, a criança recebe um incentivo a mais para prestar atenção. Ou seja, ela já sabe que mais adiante nos exames vai ser solicitada a narrar da mesma forma o que ela narrou semanas anteriormente. 

Lembrando que, para as crianças que ainda não são alfabetizadas ou estão em fase de alfabetização, a narração oral é feita no dia a dia e também no dia do exame. Nestes casos em que a narração oral é mais frequente é bom gravar aquela resposta e depois fazer a transcrição para ter um registro do material que ela tenha aprendido. 


5° princípio: Assegurar que a narração seja um trabalho original da criança 


É preciso que a composição daquela narração seja fruto da sua real compreensão do conteúdo. Em outras palavras, a mente daquela criança deve ser a responsável por compreender aquela leitura, classificar e ordenar para apresentação. A autora utiliza uma metáfora muito interessante: imagine que o seu filho de 5 anos vai começar a desenhar um carro e você fica preocupado se ele vai fazer um bom trabalho, então segura os dedinhos dele e vai guiando o esboço daquele desenho. Acontece é que essa assistência por parte do adulto mascara o real conhecimento daquela criança. A criança fica sem saber se ela pode desenhar um carro, da mesma forma quando um adulto conduz uma narração, fica difícil compreender o que a criança realmente sabe sobre aquele conteúdo e além disso não consegue acompanhar a sua evolução e o seu desenvolvimento. Quando a criança é impedida de fazer isso por conta própria, perdemos a oportunidade de deixá-la se expressar por ela mesma. Isso é chamado de narração espontânea. 


No começo as narrações podem parecer simples e é possível que tenhamos uma expectativa de que as crianças, especialmente as menores, se expressem mais, mas precisamos deixá-las conduzir suas próprias narrações, da mesma forma que nós adultos permitimos que ela desenhe o carro por ela mesma.


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