#Maratona Primus - Geografia, um currículo para o 1º ano do Ensino Fundamental | Live 4

O que vem à sua cabeça quando ouve a palavra "Geografia"? Mapas, bandeiras, livros grossos... De acordo com o dicionário Aulete digital, trata-se do estudo científico da Terra, de suas características físicas, climas, solos e vegetações, das relações entre o meio natural e os grupos, da distribuição da vida sobre ela, incluindo a vida humana e os efeitos das atividades do homem.


Tudo isso soa bastante relevante e útil, mas para Charlotte Mason “... o valor particular da Geografia reside em sua capacidade de nutrir a mente com ideias e prover imagens à imaginação.”

Interessante, não? Talvez você nunca tenha visto a Geografia através dessa perspectiva. Segundo o artigo How We Teach Geography de Janet Smith, que formou-se em 1911 na House of Education de Charlotte Mason, podemos extrair três princípios dessa afirmação:


  1. A mente deve ser nutrida com ideias vivas;
  2. A imaginação deve ser equipada com imagens;
  3. A Geografia deve estar sempre associada à experiência.


Janet Smith nos adverte de que, para levar a cabo o primeiro princípio, devemos procurar que a criança tenha acesso aos melhores e mais interessantes livros que abordem o assunto em questão. Para atender ao segundo princípio devemos lançar mão de imagens e histórias, assim como de um inteligente estudo dos mapas, para engajar sua imaginação de tal forma que ela não esqueça o que ouviu, mas esteja repleta de um vivo interesse no objeto de seu estudo.

Quanto ao terceiro, Smith orienta que a criança viva a experiência de ser ela mesma uma geógrafa por conta própria, por mais simples que essa experiência seja.


Para tornar isso um pouco mais concreto, dividimos em alguns tópicos o estudo de Geografia no primeiro ano do Ensino Fundamental:


Geografia ao ar livre


Assim como na Matemática, o estudo da Geografia deve partir do concreto, e só depois incluir representações pictóricas (imagens) e conceitos abstratos. Na prática, isso se traduz em caminhadas e passeios para explorar a geografia local. Uma simples caminhada no bairro pode ensinar muito sobre o conceito de distância, por exemplo. Já parou pra pensar que a criança tem uma pequena régua acoplada ao corpo? Seus pés! Quantos passos ela precisa dar do escorrega do parquinho até o balanço? E do balanço até a mangueira? Em um segundo momento, poderíamos adicionar uma outra régua mais universal: o tempo. Quanto tempo ela demora pra caminhar até a padaria? E até o mercado?


Por falar em tempo, a criança pode aprender a observar a posição do sol no céu e sua relação com a hora do dia, assim como as mudanças em sua sombra em diferentes horários. Um córrego nas redondezas de casa pode servir muito bem para imaginarmos como é um grande rio, sua nascente, foz e margens. Um laguinho (ou até uma poça!) pode representar uma lagoa e um pequeno morro pode representar uma montanha gigantesca. Em seu volume 1, Charlotte Mason nos diz que existem certas ideias que as crianças devem apreender dentro de uma distância que possa ser percorrida a pé a partir de suas casas, se quiserem ter um dia uma compreensão real de mapas e termos geográficos (Home Education, p 73).


Vale a pena pontuar também que Charlotte Mason incluía o escotismo como parte do programa do primeiro e segundo anos. Ainda que essas atividades não sejam iguais às que vemos hoje entre os grupos escoteiros, existem algumas semelhanças. O objetivo do escotismo dentro do programa era oferecer às crianças a possibilidade de aprender Geografia e História naturais através da experiência. Para quem quiser aprofundar mais nesse tema, sugerimos o guia disponível no programa de Geografia do Alveary, currículo oferecido pelo Charlotte Mason Institute.


Educando pequenos geógrafos


Muito mais do que ensinar Geografia a nossos filhos, somos chamados a educar pequenos geógrafos, isto é, deixar que as crianças coletem os dados e tirem conclusões por conta própria. Um exemplo prático de como fazer isso seria uma simples tabela de registro do clima.

Você pode pedir a seu filho que vá todos os dias observar como está o tempo e desenhar o símbolo correspondente ou colar um adesivo em uma folha quadriculada (coleta de dados). Ao terminar um mês, por exemplo, você pode convidá-lo a analisar os dados através de perguntas simples, como: "Quantos dias de sol tivemos esse mês?" "Tivemos mais dias de chuva esse mês ou mês passado?"


Livros vivos


Uma grande ferramenta no que se refere a fornecer imagens à imaginação é a leitura de livros vivos com muitas fotografias e/ou ilustrações. Com a ajuda deles, as crianças conseguem viajar para países distantes sem sair de casa e, assim, conhecem diferentes culturas, costumes e modos de viver. Esses livros não substituem o Atlas, que deve ser o principal livro de estudos do curso, mas conferem a ele um valor especial. Lembram do que falávamos anteriormente sobre estabelecer relações com o objeto de estudo? É muito mais interessante olhar um mapa (ou até o Google Earth!) se ele mostra o lugar em que vive um personagem querido e o rio em que ele pesca com seu pai todos os domingos. Se esse rio se modifica ao longo do ano, através de cheias e vazantes, isso também traz implicações para a vida do nosso personagem - talvez ele tenha que se mudar e viver algumas aventuras ao longo do caminho! - e uma nova oportunidade surge para nossos estudos dos rios e estações do ano.


O uso de mapas


Como já dissemos, os mapas têm papel central nesse curso. Vale a pena investir em um bom globo, mapas de parede e atlas. Esse protagonismo todo pode ser verificado na própria ordem em que as atividades são feitas em aula. Começamos relembrando o que foi estudado na lição anterior e logo em seguida já é hora de mostrar aos estudantes o mapa correspondente à leitura do dia. Fazemos, então, algumas perguntas que ajudam a criança a apreender o conteúdo do mapa e lemos em seguida o livro vivo.


É bom ressaltar que essas perguntas não são do tipo "interpretação de texto", até porque antecedem a leitura do livro. São questões simples que ajudam a treinar os olhos das crianças, destacando partes importantes do mapa da região estudada. Um exemplo do que estamos falando seria o seguinte:


Imagine que estamos estudando o continente africano e, para tal, assinalamos a leitura do livro Olelê: Uma Antiga Cantiga da África, de Fábio Simões. Podemos começar observando um mapa-múndi e perguntando onde está nosso continente e nosso país. Em seguida, pedimos a criança para olhar para o leste e procurar o continente mais próximo de nós (continente africano). Depois, podemos perguntar onde a linha do Equador atravessa a África e pedir que a criança siga o Equador até encontrar o Congo, um país que fica bem no meio do continente. A partir disso podemos perguntar como a criança imagina que seja o clima no Congo, por exemplo, e depois partir para a leitura. Também pode ser interessante mostrar fotos, vídeos ou imagens do Google Earth ou Street View, uma vez que a criança já tenha imaginado o lugar por conta própria.


O trabalho dos nossos pequenos geógrafos, porém, não se limita a observar mapas e responder perguntas. Eles também confeccionam pequenas maquetes e desenhos representando lugares maiores, como o quarto, a casa, a rua, ou mesmo um rio que corre na vizinhança. Tudo começa de forma muito simples, mas é assim que vamos lançando as bases para que no futuro os estudantes sejam capazes de desenhar mapas de memória com tamanho detalhe que possam deixar de lado os atlas e estudar apenas os mapas que eles mesmos produziram.


Livros mencionados no episódio:


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Meu Primeiro Atlas, IBGE - https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv64824.pdf

Me on the Map, Joan Sweeney - https://amzn.to/3kB3yG5

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As Panquecas de Mama Panya, Mary e Rich Chamberlin - https://amzn.to/3ntUC7z

Olelê: Uma Antiga Cantiga da África, Fábio Simões - https://amzn.to/32JZU6J

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Minhas Imagens do Japão, Etsuko Watanabe - https://amzn.to/3eY6D1Q

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Programação


1. Escolhendo um caminho a seguir (Veja como foi)⠀
2. Como planejar o primeiro ano do Ensino Fundamental (
Veja como foi)
3. Escolhendo os melhores livros (
Veja como foi)
4. Um currículo de Geografia para o 1° ano (
Veja como foi)
5. Um currículo de História para o 1° ano (
Veja como foi)
6. Um currículo de Ciências para o 1° ano (23/11 - 21h30) ⠀
7. Um currículo de Literatura e Alfabetização para o 1° ano (25/11 - 21h30)⠀
8. Um currículo de Inglês para o 1° ano (30/11 - 21h30)
9. Outras áreas de estudo para o 1° ano (Arte, Música, Matemática, Religião, Educação Física e habilidades para a vida). (02/12 - 21h30)


Por Juliana Poiares 30 set., 2022
A narração pode e deve ser inserida na rotina de estudos de alunos mais velhos, e, Karen Glass não somente recomenda a prática como nos dá subsídios para implementá-la.
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Mãe zangada com a filha
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