Como ensinar uma criança a escutar com atenção?

Na nossa última conversa, refletimos sobre como o entendimento comum da palavra "obediência" é muitas vezes superficial. Discutimos a importância de resgatar o sentido original do termo, que é — você se lembra? — “escutar com atenção”.
Mas como podemos ensinar uma criança a escutar com atenção? Embora a teoria pareça clara, a prática exige muita, mas muita paciência. Hoje, vamos tratar de algumas ideias para cultivar esse princípio em casa, e refrescar os ares do nosso lar.
Obedece quem sabe fazer
Um desafio comum para os pais é pedir, pela décima vez, que as crianças guardem os brinquedos, e, mesmo assim, vê-los espalhados como se tivessem decidido criar raízes no chão. Essa cena é familiar para você? Mas por que isso acontece? Parece tão simples pegar os brinquedos e colocá-los na caixa; então, por que nossos filhos, mesmo os mais velhos, parecem não colaborar?
Já pensou que eles podem não saber por onde começar? Talvez até tenham vontade de obedecer, mas fiquem paralisados pela confusão ao redor. Imagine sua lavanderia num dia de caos: cestos misturados, montanhas de roupas... Já passou por um momento em que a bagunça era tanta que você adiou a resolução do problema por vários dias? Eu me atrevo a dizer, que você não estava com preguiça, e não é uma relapsa; você apenas não sabia por onde começar.
As crianças sentem a mesma paralisia. Querem guardar os brinquedos, mas estão confusas: os carrinhos se misturaram com as bonecas, as miniaturas sumiram de vista, talvez estejam debaixo do sofá... Elas simplesmente não sabem por onde começar!
Dê as direções que seu filho não é capaz de entender sozinho
- “Joaquim, pegue a caixa azul e coloque somente os carrinhos que encontrar na sala. Eu seguro a caixa para você. Vamos lá!”
- “Ótimo, agora só as miniaturas. Elas vão nessa cesta. Sua irmã segura a cesta enquanto você coloca as miniaturas.”
Você continuará dando instruções objetivas até que todos os brinquedos estejam em ordem. Esse exercício vai exigir paciência e repetição, mas, ao agir assim, damos ordens que eles realmente conseguem seguir, desenvolvendo, aos poucos, a capacidade de organizar por conta própria. Reparem: essa dinâmica exige mais disciplina nossa do que deles. Quem será que são os indisciplinados da casa?
Obedece quem ouve
Outra situação comum é gritar do andar de cima uma instrução para ser cumprida no andar de baixo. Mesmo entre adultos, essa prática raramente funciona. A mensagem pode chegar incompleta, sem a devida urgência, ou nem ser reconhecida como um pedido. A voz distante vira apenas mais um som em meio ao ambiente movimentado de uma casa.
Se estiver ocupada em outro cômodo e não puder falar diretamente com seu filho, espere. É melhor que a ordem seja seguida uma hora depois, de forma correta, do que fomentar o hábito de dar orientações que ninguém responde. Para que todos se ouçam com atenção, as mensagens devem ser claras, próximas e objetivas.
Obedece quem confia
Há um ditado popular que diz: “Quem obedece nunca erra”, ele se refere à confiança de que a responsabilidade maior recai sobre quem dá a ordem. Essa afirmação tem muitas nuances, mas com ajuda dela quero apenas lembrar que obedecer é, também, um ato de confiança.
Charlotte Mason fala que a educação é uma atmosfera. Nossa intenção deve ser criar uma atmosfera em casa que promova a confiança e seja compatível com a verdadeira obediência. Quando nossos filhos confiam em nós, estão mais dispostos a escutar e seguir o que pedimos, não por imposição, mas porque acreditam que há uma razão e um propósito nos nossos pedidos, e que essas razões e propósitos nascem do amor genuíno que sentimos por eles.
Você já pratica uma dessas ideias na sua casa? Como é a experiência? Quanto tempo você precisou insistir, com disciplina, nos mesmos hábitos, antes de colher os primeiros frutos?
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