Educação Clássica é para crianças?

Por Barbara Lores
Quando falamos em educação clássica para crianças, muitos pensam imediatamente em listas de datas, nomes, fatos — ou em ensinar latim para um filho de três anos. Mas essa visão é limitada. A verdadeira educação clássica começa muito antes do conteúdo: ela começa com a piedade.
Piedade, aqui, não é apenas religiosidade. É a atitude reverente da criança diante da autoridade, da tradição e da verdade. É o que vemos quando uma criança olha para os pais para saber como reagir diante de algo novo — como um raio, por exemplo. Se a mãe demonstra deslumbramento, a criança aprende a se maravilhar. Se demonstra medo, a criança aprende a temer. Essa confiança total é a base da educação.
Como diz São Mateus 18,6:
"Porém, o que escandalizar um destes pequeninos, que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço a mó de um moinho, e que o lançassem ao fundo do mar."
Clark e Jain definem piedade como “o dever, amor e respeito devidos a Deus, aos pais e às autoridades comunitárias, passadas e presentes. Isso implica cultivar fidelidade nos relacionamentos e compromisso com a própria tradição, historicamente situada em um tempo e lugar.”
Aristóteles dizia que o objetivo da educação é fazer com que o estudante goste e desgoste do que deve. Trata-se de uma educação do amor — a virtude que reúne todas as outras:
"E, acima de todas essas virtudes, revesti-vos do amor, que enfeixa todas elas em uma unidade perfeita" (Cl 3,14).
Quem é treinado para comer insetos, come com prazer. Quem é treinado a gostar de músicas com linguajar obsceno, dança alegremente ao som das expressões mais baixas. Por isso, precisamos formar o gosto — e isso começa com piedade.
Deus é o Sumo Bem, a Suma Verdade, a Suma Beleza. O bem não é o que eu gosto, mas o que expressa melhor a bondade de Deus. E para transmitir isso, precisamos da confiança da criança — precisamos da piedade.
Sem piedade, não há ensino verdadeiro. A criança que não respeita os pais não acredita no que eles dizem. O temor de Deus é o princípio da sabedoria. Essa humildade filial é a condição da aprendizagem.
Karen Glass resume bem essa ideia:
"A condição de humildade — de 'saber que não sabemos' — é uma condição que precisa estar presente para que a aprendizagem verdadeira aconteça. Se somos humildes, somos ensináveis. Se não somos humildes, não somos ensináveis."
E o que vem depois da piedade?
Na base do tronco da árvore da educação clássica, encontramos ginástica e música. Pode parecer estranho, mas é isso que encontramos nos escritos dos clássicos. Platão afirma:
"A ginástica, bem como a música, deve iniciar-se nos primeiros anos; o treinamento nela deve ser diligente e deve continuar por toda a vida" (A República, III).
Ginástica não é apenas educação física. É o cultivo do domínio do corpo, da coragem, da prontidão. Aristóteles dizia que um homem com corpo indisciplinado acha difícil ser corajoso. Charlotte Mason via a ginástica como preparação do corpo para qualquer missão que Deus nos dê.
Já a música — no sentido amplo — inclui poesia, teatro, belas artes, literatura, história, geografia. É tudo que vem das Musas. Na Antiguidade, a educação das crianças consistia em educação física, canto, memorização de poesia, atuação dramática, pintura, escultura, leitura das grandes obras e observação do mundo natural.
Essa é a fase pré-crítica. Como diz John Senior, as grandes ideias dos clássicos só crescem em um solo imaginativo cheio de fábulas, contos, histórias, rimas e aventuras.
Ginástica e música são o solo fértil onde as artes liberais podem crescer.
Finalizo, novamente, com as palavras de Miss Mason:
"Vamos tentar, ainda que de forma imperfeita, fazer da educação uma ciência das relações — em outras palavras, tentar, em cada disciplina, levar as crianças a trabalhar com ideias vivas."