Como é o Natal sul-coreano?

Professora Natalia Mendes
Me lembro claramente quando criança de imaginar como era a vida das outras pessoas. O que elas faziam durante a noite? Como era seu jantar? Quais eram os hábitos delas? Essas perguntas definitivamente começavam a plantar em mim a certeza de que existiam pessoas com hábitos diferentes dos meus, e um desejo por conhecê-los.
Hoje, cerca de 15 anos depois, eu continuo me fazendo essas perguntas, mas consciente de que o mundo é maior que a minha cidade. Aos 14 anos meus olhos se voltaram para a Ásia, e entender melhor os diferentes países que formam esse continente grandioso se tornou meu hobby.
Aproveitando a alegria do Natal, gostaria de partilhar com vocês um pouco da cultura e história desta data na pequenina, mas grandiosa, Coreia do Sul.
Tal como nossos alunos da Schola Secunda de Geografia descobriram ao longo do ano de 2024 em seus estudos sobre Marco Polo, foram enviados missionários para a China a pedido do Grande Khan. Também tivemos missionários no Japão, como São Francisco Xavier em 1549. Mas mesmo em 1700, ainda que cristãos tenham passado pelo país, nenhum missionário havia pregado na pequena península da Coreia do Sul.
O que não podemos jamais esquecer é que Deus tem seus caminhos, e a mensagem de Cristo foi clara: “Levai o Evangelho a todos os povos”.
No século XVIII chegaram na Coréia alguns livros cristãos escritos em chinês para serem estudados por budistas e outras pessoas que estavam interessadas no cristianismo pelo aspecto filosófico, não religioso. Dentre estes estudiosos estava um jovem de 16 anos chamado Yi Byeok. Por 14 anos este grupo mergulhou nas grandiosas verdades que regem a história e o propósito humano e foram, lentamente, se convertendo ao cristianismo.
Atualmente os sul coreanos acompanham o calendário ocidental, mas na época a Coreia usava seu próprio sistema de organização dos dias, o que tornava impossível saber com precisão quando era o Domingo. Por isso, eles contavam sete dias e se reuniam para viver seu “Dia do Senhor”, em que estudavam e adoravam, ainda que não fossem batizados.
Assim como São Paulo aconselhava Tiago, ninguém desprezava Yi Byeok por ser jovem: Ele era um líder para aquela pequena comunidade que nascia.
Um dos irmãos, Yi Seung-Hun, viajou para a China com a missão de encontrar com os cristãos e ser batizado, para levar assim o batismo aos que permaneciam na península. E assim foi feito, recebendo o nome batismal de “Pedro” e, posteriormente, batizando Yi Byeok como “João Batista”, uma tradição que ainda permanece no catolicismo sul coreano.
Esta pequena parte do Corpo de Cristo se dedicou a levar a Verdade que conheceram para seus compatriotas, o que fez da Coreia do Sul um dos poucos, se não o único, país que se auto evangelizou. Tal como vemos nos Atos dos Apóstolos e na tradição cristã, eles também não foram poupados das perseguições, mas como disse Tertuliano “O sangue dos mártires é a semente dos cristãos”.
Com um salto no tempo, podemos nos dirigir ao nosso século.
A Coreia viveu uma grande influência da cultura norte-americana de cinema e música, principalmente depois da Guerra Fria – Mas este é um assunto para os nossos estudos de história de 2025 – por isso existem diversas expressões vindas do inglês, uma delas é “Merry Christmas”.
Porém, você concorda que grande parte dos filmes produzidos com o tema “Natal” abordam histórias românticas? Por vezes tratam de temas muito importantes, como a importância da família e do senso de pertencimento, mas não do Nascimento de Cristo em si? Pois é, a cultura coreana também acha isso. Por isso a expressão “Merry Christmas” é usada de forma semelhante ao nosso “Boas festas”.
Um fato curioso é que para pessoas que não são religiosas, o Natal é visto como uma data romântica! Diferente do Dia dos Namorados ou do Valentines Day em outros lugares, que acontece uma vez por ano, a Coreia tem diversas datas em que por tradição os casais trocam presentes, saem para jantar etc. Por lá, o Natal se tornou uma delas para diversas pessoas.
A palavra usada pelos cristãos para se referir ao Natal é na própria língua coreana, e significa “Dia do Nascimento Sagrado”.
É tradicional para os cristãos coreanos participarem de seus cultos e Missas, e rogar pela paz mundial e doméstica. Esse desejo por paz é muito marcante na cultura, visto que está presente no branco da bandeira, que simboliza a paz e relembra um nome tradicional do país “Terra da Manhã Calma”. Isso também é percebido pela saudação usada na língua coreana significar de forma literal “Esteja em paz”.
Assim como no Brasil, algumas pessoas se reunirão com suas famílias para comerem após as celebrações religiosas, mas quando pensamos em comidas natalinas aqui, acredito que imediatamente nossa mente se recorde de perus e farofas, pavês e rabanadas... Bom, para os sul coreanos a comida mais tradicional do Natal é bolo! Isso mesmo, um bolo de padaria! Mas isso tem um motivo: Bolos não são tradicionais lá! Tanto bolos quanto pães são algo até novo para o país. Então comprar um bolo com recheio e cobertura geralmente acontece em celebrações especiais!
Espero que este texto desperte em vocês o desejo de conhecer mais sobre outros lugares, e a forma como Deus nasceu e se manifestou a todos como “luz para iluminar as nações e glória para o seu povo Israel”.
즐거운 성탄절 보내세요