#Maratona Primus - História, um currículo para o 1º ano do Ensino Fundamental | Live 5

O lugar do ensino de História


Podemos dizer que, dentro do método Charlotte Mason, todo o currículo gira em torno da História. Na prática, isso significa que muitas outras áreas de estudo vão ser diretamente ligadas ao período histórico que estivermos estudando, como Apreciação Musical, Apreciação Artística, Literatura e Poesia. Mas, que período histórico deve ser estudado no primeiro ano? 

 

Assim como nas lições de Geografia, os estudos em História iniciam pelo lugar em que a criança está: no nosso caso, o Brasil. Dessa forma podemos iniciar com o que é mais concreto para a criança. Um dos principais benefícios dessa abordagem é o fato de que se torna muito mais fácil fazer excursões a lugares históricos, e essas experiências tem um impacto muito grande no engajamento da memória. Até mesmo as placas das ruas da vizinhança passam a fazer mais sentido, uma vez que podemos a conhecer a biografia por trás dos nomes nelas mencionados. 


Por onde começar? 


Mas, em que momento da história do Brasil deveríamos começar? Nos Estados Unidos há algumas famílias que optam por começar pela história da Inglaterra, pela grande influência que exerceu na cultura americana. Outras, por sua vez, iniciam no período pré-colonial, focando na vida e costumes indígenas antes de sua primeira interação com o homem branco. Miss Mason diz que "(...) toda nação tem uma era heroica antes que a autêntica história comece: Havia gigantes na terra naqueles dias, e a criança quer saber sobre eles" (Home Education, págs. 280-281). 


Ao tentar fixar um ponto para o início do estudo da História do Brasil, fiz a seguinte consideração: Se devemos começar pela história do lugar em que a criança nasceu, não faz sentido começarmos por Portugal, afinal não somos portugueses. Por outro lado, estudar apenas os povos indígenas não me pareceu tão produtivo assim, uma vez que também não somos índios. O brasileiro é, por excelência, o fruto de uma boa mistura de culturas. Por que não começar pelo ponto em que essa interação começou a acontecer? Optei, portanto, por iniciar no Descobrimento. 

 

Charlotte Mason dava tanta importância a iniciar o estudo da história pelo país da própria criança, que os alunos do primeiro ano formal eram os únicos que não participavam da rotação dos ciclos de história do restante da escola. Funcionava assim: No primeiro ano, toda criança começava pelo estudo dessa era heroica, enquanto os demais estudavam a cada ano um período histórico diferente.

 

Em um contexto domiciliar brasileiro, isso significa que as crianças do primeiro ano vão sempre estudar o Descobrimento do Brasil enquanto todos os seus irmãos (independente da idade) estarão estudando o período histórico designado para aquele ano. É claro que cada criança aprofunda mais ou menos nos estudos de acordo com sua maturidade, mas combinar crianças de idades diferentes em um mesmo período histórico é algo que traz muito mais tranquilidade à rotina.


Para compreender a rotação nos estudos de História

 

A rotação conta com 4 períodos históricos. Dessa forma, ao longo dos 12 anos escolares, os alunos têm a oportunidade de estudar o mesmo período histórico três vezes. A partir do 3o ano do Ensino Fundamental (form 2b) começa em paralelo o estudo de outro país que tenha exercido grande influência no nosso. Na Inglaterra de Charlotte, esse país era a França. No nosso caso, Portugal. A rotação pode organizar-se da seguinte forma: 


História Moderna: 

 

Ciclo 1: 800 dC - 1650 dC 

Ciclo 2: 1650 dC - 1800 dC 

Ciclo 3: 1800 dC - 1900 dC 

Ciclo 4: 1900 dC - Até os dias atuais 

 

A disciplina História de Portugal deverá seguir o mesmo período estudado em História Nacional, mas com lições separadas e livros próprios. Seguindo essa mesma estrutura teremos, a partir do quarto ano do Ensino Fundamental, a inclusão da disciplina História Antiga (Roma, Grécia, Egito...), com seu próprio ciclo: 

 

Ciclo 1: 3.500 aC - 550 aC 

Ciclo 2: 550 aC - 100 aC 

Ciclo 3: 100 aC - 350 dC 

Ciclo 4: 350 dC - 800 dC 

 

A importância das biografias 

 

Dizia Miss Mason em Home Education (pág. 280) que "O erro fatal está na noção de que ele deve aprender 'esboços', ou uma edição infantil de toda a história da Inglaterra, ou de Roma, assim como na ideia de que deve cobrir a Geografia do mundo todo. Que ele, pelo contrário, possa demorar-se agradavelmente na história de um único homem, um curto período, até que ele pense os pensamentos daquele homem, até que esteja familiarizado com os costumes daquele período." 


Dentro do  Alveary, as biografias recebem também lugar de destaque. Seguindo as orientações deste currículo vamos ler biografias aqui semanalmente, por 20 minutos. Pretendemos ler sobre grandes personalidades que exerceram grande influência em seu tempo, como São José de Anchieta, Pedro Álvares Cabral, Vasco da Gama, e o Caramuru. Além de biografias, também está prevista pelo Alveary a leitura de ficções históricas (também durante 20 minutos) e histórias dos povos indígenas antes da colonização (10 minutos). 


Confiram abaixo alguns trechos de Charlotte Mason que podem ajudar na seleção de livros vivos para o ensino de História: 


A história inicial de uma nação é mais adequada ao estudo das crianças que seus registros posteriores (...). Nos primeiros anos, enquanto não há provas pela frente, e as crianças podem ainda seguir um ritmo de lazer, deixe-as adquirir o espírito da história através da leitura de ao menos uma crônica antiga, escrita por um homem que viu e aprendeu algo sobre o que ele mesmo escreveu, e não ouviu de terceiros (Home Education, pág. 281). 


Estes livros antigos são leitura mais fácil e agradável do que a maioria das obras modernas sobre história; porque os escritores sabem pouco da "dignidade da História"; eles correm prazerosamente como um riacho na floresta, contam tudo "tim-tim por tim-tim", mexem com seu coração com a história de um grande evento, divertem você com desfiles e apresentações, tornam-no íntimo das grandes pessoas e amigo dos humildes. Eles são exatamente a coisa certa para as crianças cujas almas ansiosas querem chegar às pessoas vivas por trás das palavras do livro de História, sem se importar nem um pouco com progresso, estatutos, ou qualquer coisa além das pessoas (...).Uma criança carregada assim por um único cronista antigo tem uma base melhor do que se ela soubesse todas as datas e nomes e fatos já decorados antes de uma prova (Home Education, pág. 281). 

 

A criança de seis anos no 1b* estuda, não historinhas da História Inglesa, mas uma quantidade definida de leituras consecutivas, em torno de quarenta páginas por trimestre, de um volume grande, bem considerado e bem escrito, e que também tenha sido bem ilustrado. As crianças não podem, é claro, ler um livro que de forma alguma foi escrito no "nível infantil", então a professora lê e as crianças "contam" parágrafo a parágrafo, trecho a trecho (Towards a Philosophy of Education, pág. 172). 

 

* Form 1b corresponde ao primeiro e segundo anos do Ensino Fundamental. 


Estrutura sugerida para as lições de História: 

 

  1. Relembrem o que foi estudado na lição anterior. 
  2. Inicie a lição com um mapa, fotografia ou outro recurso que "prepare o terreno" para a lição do dia (opcional). 
  3. Conversem sobre o significado de uma ou duas palavras do texto a ser lido e que a criança ainda não conhece. Assim, ao ouvi-las, poderá compreendê-las sem interromper a leitura. 
  4. Leia em voz alta para seu filho o trecho selecionado para aquele dia (se seu filho já for fluente em leitura, você também pode convidá-lo a ler o fragmento selecionado). 
  5. Peça a seu filho para narrar o trecho lido, isto é, contar com suas palavras tudo o que se lembra da leitura. 
  6. Deixe que seu filho comente suas impressões sobre a leitura (o que você nota? este trecho lhe faz lembrar de alguma outra coisa?) 
  7. Incluam em uma linha do tempo visual (como esta, sugerida pelo Alveary para o primeiro ano do Ensino Fundamental) a fotografia de algum personagem histórico mencionado na lição. 

 

Livros mencionados no episódio: 

 

As Mais Belas Histórias da História do Brasil, Viriato Corrêa - https://amzn.to/2VfPlEs 

A Carta de Pero Vaz de Caminha, traduzida para o português moderno por Ivo Barroso - https://amzn.to/36olYGy 

Terra à Vista! de Beatriz, Elizabeth e Ruyter Ribeiro - https://amzn.to/2JoC2Po 

Cabral, de Walter Vetillo 

São José de Anchieta - Apóstolo do Brasil, de Charles Sainte-Foy 

As Caravelas de Cristo, Gilberto Renault  https://amzn.to/3pHiMwA 

Contos dos Meninos Índios, Hernani Donato - https://amzn.to/3pwCI5h 

A Viagem do Descobrimento, Eduardo Bueno - https://amzn.to/2M714V6 

Brasil: terra à vista!: A aventura ilustrada do descobrimento, Eduardo Bueno - https://amzn.to/2YDxhpH 


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