Ciências, um currículo para o 1º ano do Ensino Fundamental | Live 6



Onde a ciência não ensinar uma criança a maravilhar-se e a admirar, talvez não tenha valor educativo algum. - Charlotte Mason



O que uma criança do primeiro ano do Ensino Fundamental deve estudar em Ciências?

Existem livros capazes de dar vida a esse estudo, despertando nas crianças a capacidade de

maravilhar-se?

Como cativar o interesse infantil, ajudando nossos filhos formarem uma relação profunda

com a natureza?


Foi sobre isso que falamos na sexta live da Maratona Primus. Confira aqui um resumo:


Estudo da Natureza


Vamos começar do começo... no primeiro ano não se estuda "Ciências" de modo formal. Charlotte Mason propõe que iniciemos com o chamado Estudo da Natureza. Mas, o que é isso mesmo?


Vamos lá.


Logo no início do seu Handbook of Nature Study, Anna Botsford Comstock nos diz que o famoso Nature Study é, apesar de todas as discussões e perversões, um estudo da natureza; ele consiste em simples e sinceras observações que podem, como contas em um cordão, ser finalmente alinhavadas no entendimento e, portanto, serem sintetizadas em um todo lógico e harmônico. Assim, o objeto do professor de estudo da natureza deveria ser cultivar nas crianças o poder de observar com acurácia, e construir nelas o entendimento.

(...)

O estudo da natureza cultiva a imaginação da criança, uma vez que há tantas histórias maravilhosas e reais que ele pode ler com seus próprios olhos, e que afetam sua imaginação tanto quanto os contos de fadas; ao mesmo tempo o estudo da natureza cultiva nela uma percepção e um respeito pelo que é verdadeiro e o poder de expressá-lo. Todas as coisas parecem possíveis na natureza; mas essa aparência está guardada pela ânsia da busca pelo que é verdadeiro. Talvez metade da falsidade do mundo se deva à falta de poder de detectar a verdade e expressá-la. O estudo da natureza auxilia tanto no discernimento quando na expressão das coisas como são.


O estudo da natureza cultiva na criança um amor ao Belo; traz a ela logo cedo a percepção de cor, forma e música. (...) Mas, mais do que tudo, o estudo da natureza dá a criança um senso de companheirismo com a vida ao ar livre e um amor duradouro pela natureza. Que seja esse o critério do professor no julgamento de seu trabalho. Se o estudo da natureza como é ensinado não faz com que a criança ame a natureza e o ar livre, deveria então deixar de acontecer. (...) Mas, se o amor pela natureza está no coração do professor, não há perigo; tal professor, não importa por que método, toma a criança pela mão e caminha com ela por caminhos que conduzem a ver e compreender o que se encontra entre seus pés ou acima de sua cabeça."


Caderno da Natureza


Manter um caderno da natureza não precisa ser algo estressante! Essa ideia de que temos que levar papel e aquarela pro mato(além de repelente, água, lanche, toalha, muda de roupa...) pode desanimar muitas pessoas. Nas escolas de Charlotte Mason, os alunos usavam o caderno da natureza em todas as tardes para registrar o que observavam nas caminhadas ao ar livre. Dessa forma, não ficavam distraídos com as outras crianças e tinham tempo suficiente para elaborar bem seus registros, caprichando nos desenhos e pinturas. Esse tipo de atividade como a cereja do bolo, algo extra, mas consistia de fato no feijão com arroz diário.


É verdade que desenhando ou pintando in loco nós teoricamente conseguimos reproduzir melhor as cores e formas. Sim, é difícil confiar na memória quando se trata de desenhar flores ou animais... No entanto, a prática é diferente. Na hora em que queremos desenhar o pássaro ele provavelmente já voou! Vale a pena tirar vantagem dos recursos que temos, como as câmeras dos nossos celulares, para fotografar o que estamos observando a fim de desenhar com tempo em casa, usando como referência as imagens. Podemos até recorrer a alguns tutoriais, como esses aqui.


Por falar em pintura, para as crianças do primeiro ano um bloco de papel pode ser mais interessante do que um caderno em si, de forma que possam usar folhas individuais que serão reunidas posteriormente em um fichário. É importante que o papel seja de alta gramatura, permitindo o uso de aquarela sem vazar tinta. Vale lembrar que o hábito da execução perfeita não significa necessariamente traço perfeito. O caderno do seu filho não precisa ser uma obra de arte, mas é fundamental que ele faça o melhor que puder.


Uma ideia para caprichar ainda mais nesse registro seria ilustrar de forma bem bonita a abertura de cada mês, elaborando uma espécie de capa. No caderno também podem ser registrados poemas, versículos bíblicos, trechos de músicas, etc. - desde que estejam relacionados ao que está sendo registrado.


Estudos especiais


Estudos especiais são tópicos para aprofundamento das crianças. São assuntos que podem ser estudados ao longo de várias semanas ou mesmo durante todo ano. Imagine que vocês tem uma casa de João de Barro no poste em frente a sua casa. Vocês podem observá-los recolhendo barro de algum canteiro próximo e as diferentes etapas da construção do ninho, podem ver os filhotes sendo alimentados, dando os primeiros vôos, etc.


Os estudos especiais são sazonais, e podem ser divididos de muitas formas. Por exemplo:


frutas silvestres, pássaros e algum outro animal no outono; galhos de árvores, pássaros e algum outro animal no inverno; flores silvestres, insetos e algum outro animal na primavera. Você pode customizar essa lista de acordo com os interesses do seu filho e com as oportunidades que se apresentem durante as caminhadas diárias. Se na sua região tem muitos dentes-de-leão e as crianças gostam de andar pela rua soprando as florezinhas, essa pode ser uma boa opção. Se seu filho é fascinado por algum inseto em específico, inclua isso na sua lista!


Lições de objetos


Esse tipo de lição busca treinar o olhar da criança, ajudando-a a formar uma imagem mental do que tem diante dos olhos. Isso é feito através de perguntas, como as que podem ser encontradas nas lições do Handbook of Nature Study, de Anna Comstock (disponível gratuitamente aqui ou para compra na Amazon).


Livros Vivos


"O uso real de livros de naturalistas [nature lore] nesse estágio é dar a criança deliciosos vislumbres do mundo de maravilhas em que vive, revelar os tipos de coisas que podem ser vistas por olhos curiosos, e enchê-la com o desejo de fazer descobertas por conta própria" (Home Education, pág. 64).


Os livros usados para estudar a natureza tem com objetivo ajudar a criança a estabelecer uma relação profunda com o objeto do seu estudo, despertando nelas a capacidade de maravilhar-se diante da criação. Não são livros que enumeram listas de fatos sobre animais ou plantas, mas apresentam essas realidades de forma viva, geralmente através de narrações. São uma grande ajuda para os estudos especiais.


Livros Mencionados:


Handbook of Nature Study, de Anna Botsford Comstock - https://amzn.to/3o2XVmi

Sam e outros contos de animais, de Noah Gordon - https://amzn.to/3lok6ll

A viagem de Tamar: a Tartaruga-Verde do mar, de Angelo Machado - https://amzn.to/3lok6ll

Canta sabiá, de Giselda Nicolelis - https://amzn.to/3o95S9z

A viagem do João de Barro, de Priscila Freire - https://amzn.to/3fX8aWv

Passarinhos do Brasil: Poemas que voam, de Lalau - https://amzn.to/2Vjw0T2

Árvores do Brasil: Cada poema no seu galho, de Lalau - https://amzn.to/37j0Qk4

Amarelo, de Elaine Pasquali Cavion - https://amzn.to/3qfYpHC


A árvore das estações que vêm e vão, de Patricia Hegarty - https://amzn.to/39rCS95

Abelha, pequeno milagre da natureza, de Patricia Hegarty - https://amzn.to/3fTLpD0

As Plantas: Palavras e adesivos, da editora Usborne - https://amzn.to/39w8kTw

Curiosos Habitantes do Mar, Col. Horas Preciosas da Infância

Enciclopédia Mundo da Criança


  • WikiAves
Por Juliana Poiares 30 set., 2022
A narração pode e deve ser inserida na rotina de estudos de alunos mais velhos, e, Karen Glass não somente recomenda a prática como nos dá subsídios para implementá-la.
Por Leciane Sulsbach 14 set., 2022
Os processos cognitivos envolvidos na criação de conteúdo escrito exigem uma organização de pensamento estruturada e refletida. Destarte, um tanto mais complexo do que o exercício oral.
Por Barbara Lores 12 set., 2022
Como uma tabela pode ajudar seu filho a aprender as datas de eventos históricos importantes e ainda incentivar a criatividade e potencializar a imaginação?
Por Maria Fernanda 08 set., 2022
Ao começar a narração oral formal com seu filho, você vai se deparar com várias dificuldades. São como aqueles primeiros passos de um bebê. A perseverança é a chave do sucesso na narração.
Por Mariana Maxnuk 01 set., 2022
A autora faz a comparação de que narração é como o processo digestivo do corpo. É o processo de assimilação do material que foi lido, portanto, se esse material já vem digerido, mastigadinho, a criança não vai ter muito trabalho a fazer e provavelmente não vai reter aquele conteúdo.
Por Renata Knupp 24 ago., 2022
A narração é essencial na educação. Muitas vezes tendemos a subestimar o poder da narração, justamente por ser algo tão “simples”. Nós achamos que é repetitivo, que toma um tempo que poderia estar sendo usado para aprender coisas novas, como novas leituras. E de fato, a narração toma tempo, porém esse tempo é bem investido.
Por Laura Pavret 12 ago., 2022
Estude com a Prof. Laura Pavret - A verdade é que a narração é infinitamente mais simples do que parece. Mas, justamente por ser simples, nós achamos que falta algo, queremos enfeitar.
Por Professor Rodolfo Braga 18 jul., 2022
Inauguramos o espaço filosófico. Os artigos desta seção terão uma perspectiva mais de busca pelo fundamento das coisas. Neste primeiro mês, o professor Rodolfo Braga nos mostra a importância de agir de acordo com o que as coisas são e não do modo como queremos que elas sejam.
Por Barbara Lores 14 jul., 2022
- Só posso contar com o coletivo feminista da universidade em que trabalho. E todas me apoiam nessa escolha. Inclusive, eu não estaria tão segura de dar esse passo sem o suporte delas.
Mãe zangada com a filha
Por Barbara Lores 30 jun., 2022
Você sabe por que seu filho mente? Conheça os 6 tipos de mentira e suas respectivas curas conforme descritas por Charlotte Mason em seu livro Parents and Children (Pais e Filhos)
Show More
Share by: